Editorial

São tantos, mas faltam nas UBSs

É rara a semana em que a Redação do Diário Popular e seus repórteres não recebam contato de leitores alertando sobre a falta de médicos em alguma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade, seja na zona urbana ou nas áreas rurais. Algumas vezes a reclamação chega acompanhada de um pedido de informação sobre o motivo. O cidadão quer saber se os jornalistas por acaso têm conhecimento de algo atípico, se algo foi divulgado sobre uma eventual ausência de profissionais por tempo determinado. Mas na maioria dos casos, os pelotenses ligam ou mandam mensagens demonstrando indignação e relatando ser este um problema comum, recorrente.

Reportagem publicada na página 3 desta edição, produzida pelo jornalista Douglas Dutra, mostra que essa realidade contrasta com um dado que, ao menos à primeira vista, deveria ser positivo: Pelotas tem um índice de médicos por habitante que é acima do dobro da média nacional. Enquanto o estudo Demografia Médica no Brasil 2023 aponta a existência de 2,6 profissionais a cada mil habitantes, a cidade da Zona Sul conta com 5,32 por mil. O que explica, então, que moradores de um Município com tantos médicos - 1,7 mil segundo números do Conselho Regional de Medicina (Cremers) - lidem historicamente com essa dificuldade de atendimento nos locais de atendimento básico pela rede pública?

O problema, aliás, não é apenas de Pelotas. Pelo contrário, trata-se de um desafio de longa data enfrentado por quase todos os municípios do interior País afora. Basta perguntar a qualquer prefeito ou secretário de Saúde da Zona Sul para que se tenha resposta parecida: o desinteresse da maioria dos profissionais em atuar longe de grandes centros. Tanto que, conforme o mesmo estudo da Demografia Médica, a média nas capitais é de 6,28 médicos para mil moradores, enquanto nas cidades do interior fica em 2,31 a cada mil. O que ocorre, inclusive, mesmo diante de todo o esforço das Prefeituras em aumentar salários.

Contudo, o problema é maior, já que conselhos e sindicatos da categoria médica apontam quase que de forma unânime como desafio a ser enfrentado por gestores públicos, além da remuneração que julgam ainda abaixo do esperado, as condições de trabalho oferecidas. Afinal de contas, diante de tamanha responsabilidade em lidar com a saúde e a vida, apontam como fundamental contar com infraestrutura e retaguarda adequadas. Algo que, não raro, passa longe da realidade de falta de materiais, de equipamentos para diagnósticos e exames, de medicamentos.

Se há um ponto positivo é que os retratos e relatos dos problemas existem e são bem documentados e estudados. Ou seja, sabe-se onde não está dando certo. O ponto negativo é que, mesmo assim, o problema persiste na rede pública. E quem mais é penalizado é o usuário que depende do SUS.

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